A língua padrão ou normal
Fazendo um estudo diacrónico da língua, concluímos as variedades de realização do sistema, através dos tempos ( estados de língua).
As variedades do discurso são igualmente numerosas se procedermos a uma análise sincrónica. Elas dependem, sobretudo, do nível cultural do emissor, do meio social onde está inserido, da situação em que se encontra e dos receptores a quem se dirige.
Considerando os factores referidos, podemos estabelecer os diversos níveis de língua:
1. Língua cuidada – aquela em que o emissor recorre a termos menos correntes e estrutura a frase de modo a procurar a perfeição (repete muitas vezes modelos de frases clássicas). Constitui um desvio à língua normal ou média, nos planos vocabular e estrutural, pelo seu valor estético – poder sugestivo.
2. Língua média ou normal – corresponde ao nível considerado padrão. É constituído por termos e estruturas correntes, acessíveis à maioria dos membros duma comunidade linguística (É esta língua que é normalmente usada pelos meios de comunicação social)
3. Língua familiar – é usada no ambiente familiar ou de amigos, utilizando, muitas vezes, palavras e expressões pitorescas, só compreendidas pelos respectivos grupos.
4. Língua popular – ocorre sempre que uma realização peculiar do sistema, limitada a determinado grupo social. É a língua como desvio da média ou normal, nas suas formas de regionalismos - falares regionais, de gírias – falares característicos de certos grupos sócio-profissionais e de calão – formas marginais de expressão.
5. Língua técnica ou científica – a primeira (língua técnica) compreende o conjunto de termos ligados a formas de actividade específicas e destinadas a designar os objectos de maneira exacta e precisa – nível de referentes.
A língua científica, embora relacionada com as terminologias técnicas, reúne os termos necessários à pesquisa e reflexão científicas – nível de conteúdos.
6. Línguas mistas – resultam da mistura de línguas de duas comunidades diferentes, permitindo a comunicação directa entre ambas. É o caso dos crioulos.
A seguir transcrevo um texto extraído do art 10º. da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que ilustra a língua média ou normal:
“ 1. Toda a pessoa tem o direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de opinião e a liberdade de receber ou de dar informações ou ideias sem que possa haver ingerência de autoridades públicas e sem consideração de fronteiras. O presente artigo não impede que os Estados submetam as empresas de radiodifusão, de cinematografia ou de televisão a um regime de autorizão prévia.
2. O exercício destas liberdades, como implica deveres e responsabilidades, pode ser submetido a certas formalidades, condições, restrições ou sanções, previstas pela lei, que constituam providências necessárias numa sociedade democrática, para a segurança nacional, a integridade territorial ou a segurança pública, a defesa da ordem e a prevenção do delito, a protecção da saúde ou da moral, a protecção da honra ou dos direitos de outrem, para impedir a divulgação de informações confidenciais, ou para garantir a autoridade e a imparcialidade do poder judicial.”
Bibliografia: Apontamentos de Português da Escola Prática de Polícia
Da autoria de Armindo da Costa Gameiro, professor do Ensino Secundário.
As variedades locais e regionais da língua portuguesa
(regionalismos de Campo Maior)
A língua portuguesa é falada no concelho de Campo Maior de um modo muito peculiar, mais notório a nível fónico mas também a nível vocabular. No nível fónico posso dar como exemplo as palavras largato (lagarto), óvo (ovo) , Manele (Manuel), e muitas outras , sendo a sua pecularidade reforçada por serem pronunciadas muitas vezes com alongamento da última sílaba, que se me torna difícil exemplicar de modo escrito. Esta característica fonética ocorre apenas na vila de Campo de Maior, porquanto, na freguesia de Nossa Senhora da Graça dos Degolados, que dista apenas sete quilómetros, a pronúncia já é diferente embora Manuel se pronuncie , em geral, Manel, mas sem o alongamento silábico.
O nível vocabular também tem algumas particularidades essencialmente quando falado por pessoas idosas, sendo disso exemplo um excerto de um poema, dedicado a Degolados, da autoria de Maria Eulália Afonso (ex-auxiliar de acção educativa na Escola de Degolados), que passo a transcrever:
“...As velhas tradições
Vão-se perdendo
Mas, casas, chaminés e portas
De outros tempos
Ainda se vão vendo.
É a população mais antiga
Que lá mora,
Fazem lembrar tempos de outrora.
Em que leite dizia-se “lete”
Pão do monte, “marrocate”.
Muito dizia-se “munto”
A um senhor, “o homem”
Um pedaço de pano era” a rodilha”
Um prato grande, “barranhão”
A fotografia, “retrato”,
A palavra baixo, dizia-se “baxo”
Criança, “um gaiato”
Assim falava o povo
Desta freguesia
Mas tudo mudou
Como da noite para o dia.”
Nota: Este excerto foi extraído de livro intitulado Degolados: Reviver o Passado, da autoria dos docentes Elisabete Maria Rodrigues; João Vicente Bonita; Maria de Fátima Sousa; e Matilde Maria Candeias, da Escola do 1º.Ciclo de Degolados, Ano Lectivo 2004/2005. O referido livro foi concebido com a colaboração do meu pai Adriano de Jesus Cirilo (já falecido), também ele um poeta popular.
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