Nasci em 16 de Fevereiro de 1958, na freguesia de Nossa Senhora da Graça dos Degolados, na casa dos meus progenitores, Adriano de Jesus Cirilo e Ermandina de Jesus Martins Durão.
Os meus pais eram pobres. Trabalhavam arduamente em serviços campestres a troco de salários incertos, manifestamente insuficientes para uma subsistência condigna.
Com apenas sete dias de idade fui morar para uma casa no campo, situada a cerca de sete quilómetros de Degolados, junto da fronteira com Espanha, casa essa propriedade dos meus avós maternos, que também viviam na pobreza, tendo no entanto mais possibilidades que os meus pais, pois criavam alguns animais domésticos para consumo interno e para utilização em trocas de produtos comestíveis que iam comprar a Campo Maior. Aí , nessa casa e nos campos em sua volta, aprendi a dar os primeiros passos.
Devido à precária vida que os meus familiares tinham, passei uma infância e uma adolescência cheias de dificuldades. A título de exemplo refiro que até cerca dos 6 ou 7 anos de idade, raramente tinha calçado. Daquelas imagens que nos ficam na retina acerca do nosso passado, recordo-me de um dia em que andava descalço, no campo, pisando as ervas cobertas de geada, chorando sem que os meus pais me pudessem levar ao colo, pois recordo-me de os ver correr atrás de uma vara de porcos que teimava em ir invadir uma seara. Eu deveria ter dois ou três anos de idade, pois a minha mãe levava ao colo a minha irmã que é mais nova que eu cerca de um ano.
Até aos sete anos de idade pouco sabia o que era a vida em sociedade, e isso porque não tinha ainda o discernimento para essa avaliação e porque vivia apenas no campo mas eis que venho para Degolados e ingresso na escola. Comecei a relacionar-me com os colegas, mas era muito reservado. Nem todo o género de brincadeiras me agradava e por vezes, isolava-me e pensava no meu mundo campestre. Daí que, assim que chegavam as férias escolares, logo partia para a casa dos meus avós, para a casa de campo.
Adorava visitar os meus avós e o meu mundo campestre. Tinha saudades dos carinhos dos meus avós , do relacionamento com os meus amigos animais, com quem conseguia “falar”. Sinto grande nostalgia em recordar aqueles tempos. Daquele meu mundo eu olhava a linha do horizonte e interrogava-me acerca do que haveria para lá da mesma e como seria a minha relação com os outros quando passasse para além daquela linha.
A minha vida escolar decorreu na Escola Primária de Degolados, desde o primeiro ao sexto ano. Tive o privilégio de ter um excelente professor, de nome Delfim da Conceição Monteiro. Eu era um aluno bastante aplicado e daí resultou que tivesse obtido um prémio por ter sido o melhor aluno do primeiro ao quarto ano de escolaridade.
Ao completar o 6 º. Ano de escolaridade, havia que decidir se iria ou não estudar para o ciclo de Campo Maior ou se iria trabalhar. Os tempos eram difíceis. Os meus pais continuavam a viver na pobreza e então venceu a segunda opção, tendo começado a trabalhar com apenas doze anos de idade em serviços de hotelaria e depois na agricultura.
Quando completei vinte anos de idade, fui cumprir o serviço militar. Alistei-me nos Comandos, uma tropa de elite do Exército Português, tendo aí permanecido entre Março de 1979 e Junho de 1980.
Em 1981, consegui ingressar no Curso de Formação de Guardas da PSP, em Torres Novas, o qual terminei em Junho do mesmo ano, tendo passado à efectividade do serviço policial com colocação na área de Lisboa.
Conheci a minha esposa em Pontinha – Loures, tendo casado em Fevereiro de 1985, casamento que ainda dura e de cuja relação ocorreu o nascimento de dois filhos.
Em 1986 concorri ao posto de subchefe da PSP, tendo conseguido o objectivo a que me propus.
Em 2000 concorri ao posto de subchefe Ajudante da PSP, tendo novamente obtido sucesso.
Actualmente tenho o posto de Chefe da PSP e exerço as minhas funções na cidade de Elvas.
Ao longo da minha carreira policial e no âmbito da minha actividade profissional, tenho granjeado a estima da esmagadora maioria daqueles com quem convivo, factor que muito me satisfaz e orgulha, tendo já recebido alguns louvores.
Em consequência das formações dos cursos profissionais e da formação contínua imprescindível para um bom desempenho da minhas funções, tenho enriquecido os meus saberes a diversos níveis.
Reconheço que, na minha carreira policial, poderia ter alcançado maior progressão hierárquica, se para tal me tivesse esforçado, adquirindo habilitações literárias que me tivessem permitido aceder aos respectivos concursos.
Sou um indivíduo com um comportamento inconstante, ora mostrando extravasão de harmonia, ora demonstrando um carácter depressivo inexplicável, talvez reflexo de uma crise existencial.
Amo a liberdade e a independência e, embora goste de trabalhar em actos humanitários, por vezes não gosto de me comprometer alienando a minha liberdade.
Detesto os actos rotineiros e desejo o inédito, a aventura, a inovação, mas, por vezes, refugio-me na rotina com receio das coisas que não conheço.
Sou um sonhador, sempre perspectivando uma vida melhor, sendo raras as vezes que concretizo os meus sonhos, talvez porque não use bem a convicção, a fé.
A minha mente é muitas vezes assolada por um turbilhão de pensamentos em simultâneo, situação que origina perturbação na minha concentração e que me prejudica em variadíssimas situações.
Em períodos de acalmia, quando me encontro por exemplo isolado, num local aprazível ou quando acordo durante a noite, consigo rasgos de inspiração maravilhosos. Por vezes, dou comigo a proferir discursos bem elaborados, em pensamento, ou a planificar acções de âmbito diverso. Porém, passados esses períodos, a inspiração esvai-se e as minhas limitações intelectuais regressam.
Gosto de me relacionar de modo harmonioso com as outras pessoas, mas nem sempre consigo criar a devida empatia. Aborrecem-me as conversas de assuntos sem importância e, pese embora algumas coisas de menos importância também não devam ser desprezadas, eu dou preferência a assuntos de interesse universal.
Por vezes sou distraído e o culpado pela falta de empatia com os outros. A título de exemplo refiro o seguinte: quando estou mantendo uma conversa de tema insignificante, ao mesmo tempo estou pensando noutros assuntos que considero mais relevantes.
Preocupo-me bastante com as injustiças sociais. Repugna-me a hipocrisia, a mentira, a falsidade, a desonestidade, a arrogância, a prepotência…
Gosto de exercer a profissão de agente de autoridade mas sinto-me desmotivado pelas muitas limitações que me impedem de servir melhor aqueles que precisam de protecção.
Apesar de gostar de ser polícia, devo referir que gostaria mais de ser professor.
Fora do serviço, colaboro em actividades sociais, fazendo parte de direcções de algumas instituições. Adoro conviver com a esposa , filhos, familiares e amigos, ver televisão, ler, consultar sites da Internet e praticar a modalidade desportiva de Atletismo, actividade em que sou viciado e que muito me ajuda a combater o Stress resultante de diversas situações.
Gostaria de ser rico, viajar pelo planeta terra , escrever livros, poder defender os injustiçados , saber desvendar os mistérios da Vida e fazer algo relevante para o bem da Humanidade.
Degolados, 12 de Agosto de 2007
Alcino José Durão Cirilo
Formando B3/Novas Oportunidades
Nota: Este artigo data de 2007, quando o elaborei na qualidade de formando do Projecto Novas Oportunidades (básico). Já se encontra desactualizado em virtude da vida ser dinâmica, sujeita a mudanças constantes mas, no essencial, continua actual, pelo que resolvi publicá-lo, pois sintetiza bem a minha história de vida que também reescrevi em 2008, de modo muito mais abrangente,também no âmbito do referido projecto mas a nível do Ensino Secundário, num trabalho que bem poderia tornar em livro.
Saber utilizar o Poder Infinito do Subconsciente é o Segredo para operar milagres.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
PODERIA ESTAR NOS PÓDIOS…
Este título assenta perfeitamente na pessoa de Fábio Cirilo, meu filho, de 17 anos de idade, estudante do 12º. Ano, com uma personalidade admirável, com um carácter muito raro de encontrar em jovens da sua idade, com uma visão do relacionamento humano e com uma postura que muitos adultos ambicionariam ter nas suas vivências, evidenciando quase sempre uma atitude assertiva.
Como pai, sou suspeito de ser tendencioso neste meu artigo, mas acontece que, outras pessoas de reconhecida idoneidade, nomeadamente os seus professores, têm enaltecido o seu comportamento, pelo que me apraz elogiá-lo publicamente.
Aqueles que o conhecem bem sabem que, mesmo de tenra idade, nunca foi muito apologista das vulgares brincadeiras do “apanha-apanha” ou do “esconde-esconde” ou dos berlindes. Dava mais atenção a determinados programas televisivos ou a pintura, fazendo excelentes desenhos e, ao entrar para a escola primária logo se tornava “um profissional” a partir do momento em que entrava na sala de aulas, dando , desde logo, claras indicações de ser bom aluno, predicado que ainda hoje mantém.
Quando frequentava o 4º. Ano, na escola primária de Degolados, em determinado dia disse-me assim: “Pai, tens de falar com a minha professora, pois estou quase a ir para o ciclo de Campo Maior e ainda tenho dificuldades em fazer contas de dividir com dois dígitos no divisor.” Tinha , nesse momento, 9 ou 10 anos de idade mas era já um claro sinal de que se iria tornar um adulto de grandes qualidades e já é, pois transformou a sua adolescência na maturidade que lhe é característica em múltiplas abrangências da vida social.
Não quero, neste artigo, extravasar acerca das qualidades do Fábio, mas não quero deixar de revelar uma situação ocorrida em Novembro de 2009, quando um grupo de outros jovens da equipa de atletismo da União Futebol de Degolados, oriundos de Campo Maior e que haviam ingressado na equipa, há poucos dias, se lembraram de treinar em plena estrada nacional entre aquela vila e a freguesia de Degolados, numa distância de mais de sete quilómetros, de noite, sem luar, numa situação de extrema perigosidade para suas integridades físicas, devido à circulação rodoviária.
Os referidos jovens atletas foram vistos por vários residentes de Degolados que, de pronto, e sabendo ser eu um dos responsáveis da aludida equipa, me alertaram para aquela imprópria situação, pelo que saí de casa para ir ao encontro dos atletas. Porém, ao chegar ao jardim da localidade, foi-me dito que já haviam chegado e que estavam no interior do Edifício Polivalente para onde me dirigi . Foi então que deparei com o Fábio a proferir uma prelecção aos supracitados jovens, falando-lhes de responsabilidade, dos perigos subjacentes ao acto que haviam praticado, dos objectivos de um jovem atleta e de outras coisas . Enquanto o Fábio falava, os destinatários das suas palavras, imóveis , escutavam-no atentamente em formação semi-circular, sem o interromperem e, no final, um deles, falando em nome do grupo, pediu desculpa com a promessa de que não tornariam a repetir aquele tresloucado acto.
Perante aquilo que vi e ouvi, fiquei sem palavras e poucas mais poderia acrescentar. Confesso que, apesar de , no âmbito da minha actividade profissional já ter ministrado formação a grupos, não teria feito melhor que o Fábio, que provou ser detentor de maturidade, sentido de responsabilidade e de espírito de liderança.
Gestos desta natureza devem ser realçados e apetece-me dizer que, afinal, a nova geração também tem virtudes.
Quando comecei este artigo tinha apenas a intenção de dissertar acerca das qualidades do Fábio como atleta mas depois acabei por divagar sobre outros valores que me ocorreram e, porque o texto já vai longo, apenas vou frisar que, de facto, se ele quisesse, e outras actividades de maior valor não lhe estivessem inerentes , estaria, certamente, nos pódios das provas de atletismo. Tem demonstrado isso quando pode competir e, ainda hoje, na prova de corta-mato escolar, disputada em Alter do Chão , estando sem treinar há bastante tempo e , tendo ontem competido e brilhado numa prova de natação, conseguiu ficar no grupo dos primeiros.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Curiosidades da Língua Portuguesa
No âmbito da variedade dos temas que publico vou hoje dar a conhecer um extracto de trabalho de Língua Portuguesa, que elaborei em 2008 na qualidade de formando do Projecto Novas Oportunidades RVCC Secundário.
A língua padrão ou normal
Fazendo um estudo diacrónico da língua, concluímos as variedades de realização do sistema, através dos tempos ( estados de língua).
As variedades do discurso são igualmente numerosas se procedermos a uma análise sincrónica. Elas dependem, sobretudo, do nível cultural do emissor, do meio social onde está inserido, da situação em que se encontra e dos receptores a quem se dirige.
Considerando os factores referidos, podemos estabelecer os diversos níveis de língua:
1. Língua cuidada – aquela em que o emissor recorre a termos menos correntes e estrutura a frase de modo a procurar a perfeição (repete muitas vezes modelos de frases clássicas). Constitui um desvio à língua normal ou média, nos planos vocabular e estrutural, pelo seu valor estético – poder sugestivo.
2. Língua média ou normal – corresponde ao nível considerado padrão. É constituído por termos e estruturas correntes, acessíveis à maioria dos membros duma comunidade linguística (É esta língua que é normalmente usada pelos meios de comunicação social)
3. Língua familiar – é usada no ambiente familiar ou de amigos, utilizando, muitas vezes, palavras e expressões pitorescas, só compreendidas pelos respectivos grupos.
4. Língua popular – ocorre sempre que uma realização peculiar do sistema, limitada a determinado grupo social. É a língua como desvio da média ou normal, nas suas formas de regionalismos - falares regionais, de gírias – falares característicos de certos grupos sócio-profissionais e de calão – formas marginais de expressão.
5. Língua técnica ou científica – a primeira (língua técnica) compreende o conjunto de termos ligados a formas de actividade específicas e destinadas a designar os objectos de maneira exacta e precisa – nível de referentes.
A língua científica, embora relacionada com as terminologias técnicas, reúne os termos necessários à pesquisa e reflexão científicas – nível de conteúdos.
6. Línguas mistas – resultam da mistura de línguas de duas comunidades diferentes, permitindo a comunicação directa entre ambas. É o caso dos crioulos.
A seguir transcrevo um texto extraído do art 10º. da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que ilustra a língua média ou normal:
“ 1. Toda a pessoa tem o direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de opinião e a liberdade de receber ou de dar informações ou ideias sem que possa haver ingerência de autoridades públicas e sem consideração de fronteiras. O presente artigo não impede que os Estados submetam as empresas de radiodifusão, de cinematografia ou de televisão a um regime de autorizão prévia.
2. O exercício destas liberdades, como implica deveres e responsabilidades, pode ser submetido a certas formalidades, condições, restrições ou sanções, previstas pela lei, que constituam providências necessárias numa sociedade democrática, para a segurança nacional, a integridade territorial ou a segurança pública, a defesa da ordem e a prevenção do delito, a protecção da saúde ou da moral, a protecção da honra ou dos direitos de outrem, para impedir a divulgação de informações confidenciais, ou para garantir a autoridade e a imparcialidade do poder judicial.”
Bibliografia: Apontamentos de Português da Escola Prática de Polícia
Da autoria de Armindo da Costa Gameiro, professor do Ensino Secundário.
As variedades locais e regionais da língua portuguesa
(regionalismos de Campo Maior)
A língua portuguesa é falada no concelho de Campo Maior de um modo muito peculiar, mais notório a nível fónico mas também a nível vocabular. No nível fónico posso dar como exemplo as palavras largato (lagarto), óvo (ovo) , Manele (Manuel), e muitas outras , sendo a sua pecularidade reforçada por serem pronunciadas muitas vezes com alongamento da última sílaba, que se me torna difícil exemplicar de modo escrito. Esta característica fonética ocorre apenas na vila de Campo de Maior, porquanto, na freguesia de Nossa Senhora da Graça dos Degolados, que dista apenas sete quilómetros, a pronúncia já é diferente embora Manuel se pronuncie , em geral, Manel, mas sem o alongamento silábico.
O nível vocabular também tem algumas particularidades essencialmente quando falado por pessoas idosas, sendo disso exemplo um excerto de um poema, dedicado a Degolados, da autoria de Maria Eulália Afonso (ex-auxiliar de acção educativa na Escola de Degolados), que passo a transcrever:
“...As velhas tradições
Vão-se perdendo
Mas, casas, chaminés e portas
De outros tempos
Ainda se vão vendo.
É a população mais antiga
Que lá mora,
Fazem lembrar tempos de outrora.
Em que leite dizia-se “lete”
Pão do monte, “marrocate”.
Muito dizia-se “munto”
A um senhor, “o homem”
Um pedaço de pano era” a rodilha”
Um prato grande, “barranhão”
A fotografia, “retrato”,
A palavra baixo, dizia-se “baxo”
Criança, “um gaiato”
Assim falava o povo
Desta freguesia
Mas tudo mudou
Como da noite para o dia.”
Nota: Este excerto foi extraído de livro intitulado Degolados: Reviver o Passado, da autoria dos docentes Elisabete Maria Rodrigues; João Vicente Bonita; Maria de Fátima Sousa; e Matilde Maria Candeias, da Escola do 1º.Ciclo de Degolados, Ano Lectivo 2004/2005. O referido livro foi concebido com a colaboração do meu pai Adriano de Jesus Cirilo (já falecido), também ele um poeta popular.
A língua padrão ou normal
Fazendo um estudo diacrónico da língua, concluímos as variedades de realização do sistema, através dos tempos ( estados de língua).
As variedades do discurso são igualmente numerosas se procedermos a uma análise sincrónica. Elas dependem, sobretudo, do nível cultural do emissor, do meio social onde está inserido, da situação em que se encontra e dos receptores a quem se dirige.
Considerando os factores referidos, podemos estabelecer os diversos níveis de língua:
1. Língua cuidada – aquela em que o emissor recorre a termos menos correntes e estrutura a frase de modo a procurar a perfeição (repete muitas vezes modelos de frases clássicas). Constitui um desvio à língua normal ou média, nos planos vocabular e estrutural, pelo seu valor estético – poder sugestivo.
2. Língua média ou normal – corresponde ao nível considerado padrão. É constituído por termos e estruturas correntes, acessíveis à maioria dos membros duma comunidade linguística (É esta língua que é normalmente usada pelos meios de comunicação social)
3. Língua familiar – é usada no ambiente familiar ou de amigos, utilizando, muitas vezes, palavras e expressões pitorescas, só compreendidas pelos respectivos grupos.
4. Língua popular – ocorre sempre que uma realização peculiar do sistema, limitada a determinado grupo social. É a língua como desvio da média ou normal, nas suas formas de regionalismos - falares regionais, de gírias – falares característicos de certos grupos sócio-profissionais e de calão – formas marginais de expressão.
5. Língua técnica ou científica – a primeira (língua técnica) compreende o conjunto de termos ligados a formas de actividade específicas e destinadas a designar os objectos de maneira exacta e precisa – nível de referentes.
A língua científica, embora relacionada com as terminologias técnicas, reúne os termos necessários à pesquisa e reflexão científicas – nível de conteúdos.
6. Línguas mistas – resultam da mistura de línguas de duas comunidades diferentes, permitindo a comunicação directa entre ambas. É o caso dos crioulos.
A seguir transcrevo um texto extraído do art 10º. da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que ilustra a língua média ou normal:
“ 1. Toda a pessoa tem o direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de opinião e a liberdade de receber ou de dar informações ou ideias sem que possa haver ingerência de autoridades públicas e sem consideração de fronteiras. O presente artigo não impede que os Estados submetam as empresas de radiodifusão, de cinematografia ou de televisão a um regime de autorizão prévia.
2. O exercício destas liberdades, como implica deveres e responsabilidades, pode ser submetido a certas formalidades, condições, restrições ou sanções, previstas pela lei, que constituam providências necessárias numa sociedade democrática, para a segurança nacional, a integridade territorial ou a segurança pública, a defesa da ordem e a prevenção do delito, a protecção da saúde ou da moral, a protecção da honra ou dos direitos de outrem, para impedir a divulgação de informações confidenciais, ou para garantir a autoridade e a imparcialidade do poder judicial.”
Bibliografia: Apontamentos de Português da Escola Prática de Polícia
Da autoria de Armindo da Costa Gameiro, professor do Ensino Secundário.
As variedades locais e regionais da língua portuguesa
(regionalismos de Campo Maior)
A língua portuguesa é falada no concelho de Campo Maior de um modo muito peculiar, mais notório a nível fónico mas também a nível vocabular. No nível fónico posso dar como exemplo as palavras largato (lagarto), óvo (ovo) , Manele (Manuel), e muitas outras , sendo a sua pecularidade reforçada por serem pronunciadas muitas vezes com alongamento da última sílaba, que se me torna difícil exemplicar de modo escrito. Esta característica fonética ocorre apenas na vila de Campo de Maior, porquanto, na freguesia de Nossa Senhora da Graça dos Degolados, que dista apenas sete quilómetros, a pronúncia já é diferente embora Manuel se pronuncie , em geral, Manel, mas sem o alongamento silábico.
O nível vocabular também tem algumas particularidades essencialmente quando falado por pessoas idosas, sendo disso exemplo um excerto de um poema, dedicado a Degolados, da autoria de Maria Eulália Afonso (ex-auxiliar de acção educativa na Escola de Degolados), que passo a transcrever:
“...As velhas tradições
Vão-se perdendo
Mas, casas, chaminés e portas
De outros tempos
Ainda se vão vendo.
É a população mais antiga
Que lá mora,
Fazem lembrar tempos de outrora.
Em que leite dizia-se “lete”
Pão do monte, “marrocate”.
Muito dizia-se “munto”
A um senhor, “o homem”
Um pedaço de pano era” a rodilha”
Um prato grande, “barranhão”
A fotografia, “retrato”,
A palavra baixo, dizia-se “baxo”
Criança, “um gaiato”
Assim falava o povo
Desta freguesia
Mas tudo mudou
Como da noite para o dia.”
Nota: Este excerto foi extraído de livro intitulado Degolados: Reviver o Passado, da autoria dos docentes Elisabete Maria Rodrigues; João Vicente Bonita; Maria de Fátima Sousa; e Matilde Maria Candeias, da Escola do 1º.Ciclo de Degolados, Ano Lectivo 2004/2005. O referido livro foi concebido com a colaboração do meu pai Adriano de Jesus Cirilo (já falecido), também ele um poeta popular.
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